10 maio, 2012

Aquela menina


Ficava assim, perdida no tempo, estalando os dedos e cantando uma música lenta, tão lenta que quase não parecia que era mesmo uma música, mas um verso qualquer decorado de algum daqueles livrinhos de poemas simples que a gente encontra facilmente em bancas de jornais. O sol brilhava lá fora e as árvores pareciam ter mais frutos, mais vida. As flores do jardim em frente coloriam a paisagem e os olhos de quem passava por ali. No aquário, aquele que enfeitava a mesinha de centro, os peixes nadavam e dançavam e até pareciam sorrir uns para os outros. O vento era brisa e até parecia carregado de um aroma cítrico-oriental. Tudo, de alguma forma, tinha cor, luz, vida. A única coisa opaca dali era ela, a menina. E não fazia questão de nada, vivia pra si mesma, levava os dias monotonamente e disso se contentava. De vez em quando recebia visitas, estranhas também como ela, e não muito rápidas. Suponho que ela não gostasse de conversar, ou não tivesse muito assunto, qualquer um dos dois seria convincente. Era quase sempre dispersa, com ar de cansaço, um cansaço antigo, decifrável apenas para ela mesma. Ainda podia observá-la daqui, da brecha da janela do meu quarto, a facilidade que ela tinha de ler e se movimentar num ritmo quase acelerado naquela cadeira de balanço do terraço e me perguntava como ela conseguia ler daquela forma. Mas desisti de tentar entendê-la, ela muitas vezes, parecia sem sentido e eu não ia perder meu tempo, não com ela, não tentando decifrá-la. 
Hoje acordei com uma música vinda de lá, não era tão lenta quanto as que ela cantava. Parei para ouvir melhor, era 'If Today Was Your Last Day', de Nickelback e me surpreendi em notar que nós tínhamos alguma coisa em comum. A afeição por essa música. Tanta afeição que ela a repetia sempre que terminava e eu não me cansava de ouvir. Por dentro da música eu ia me encontrando, me perdendo, me encontrando novamente e creio que ela também. Que havia sentido naquelas notas pra mim, isso eu sabia, mas presumo que, para ela, era muito mais que um sentido qualquer, era algo que fugia da realidade e ao mesmo tempo uma reflexão para a vida. Se hoje fosse o seu último dia, e ela tivesse o poder de mudar sua própria história, seu destino, suas escolhas, quem sabe se tornaria mais brilhante, mais feliz. E eu concordaria, sem querer admitir, que no fundo, no fundo, eu me pareço muito com ela. 

11 comentários:

  1. Oi, Emanuelle, boa tarde!!
    Um lindo texto, sem dúvida.
    Observar demoradamente pessoas cuja vida é monótona não deixa de ser uma “atividade” de monotonia; então, há muita razão quando o texto aponta uma igualdade entre as duas. Não nas linhas, mas nas entrelinhas facilmente se percebe que há não uma, mas duas mulheres presas a um dia sem maiores surpresas, duas mulheres que mais observam a vida que se dispõem a ela. A música em comum apenas materializa o que entre as linhas está evidente. É preciso mais que repetir-se, é preciso mais que observar, é preciso mais que ouvir uma música infinitamente: é preciso sair... e viver!
    Um beijo carinhoso
    Doces sonhos
    Lello

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    1. Verdade Lello, eu que sei bem disso. É preciso viver, saber viver, saber encontrar os melhores caminhos, as melhores escolhas. Obrigada por entender e pelo carinho. ^^

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  2. Oi, Emanuelle, boa noite!!
    Texto maravilhoso,Temos que tentar sempre encontrar o melhor caminho verdade que as vezes vamos nós perder mas faz parte do ciclo da vida aprendermos com os nossos erros.
    bjus flor
    http://srt-jully.blogspot.com.br/

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  3. OI garotinha! Acordou com uma bela música, linda e harmoniosa melodia, gosto e gostei do seu texto, é sempre agradável de ler e interpretar, é sauve, e´mansinho desce pelo pensamento imaginário, uauu e isto é ótimo, pra vc menina poetiza bjos, bjos e bjossssssssssssssssss

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  4. Emanuelle!
    Que texto lindo, tem dias que sou igual a menina do texto, "Era quase sempre dispersa, com ar de cansaço, um cansaço antigo, decifrável apenas para ela mesma."
    Um cansaço que só ela sabe e entende, um cansaço que só eu entendo!

    Adorei o texto!
    bjs:*

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  5. Manu, seu texto como sempre lindo. E como gosto daqui. Beeeijo da Nay em seu coração *-*

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  6. Ah, realmente, que texto lindo Emanuelle!
    Parabéns, adorei *-*

    Beijão querida

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  7. O texto é lindo demais, Manu!
    Ás vezes eu sou igualzinha a essa menina do texto.
    Um abraço e ótima semana. =)

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  8. Que doce texto, muito lindo!
    Parabéns pelo encanto de blog...
    asoonhadora.blogspot.com/

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  9. Meus amooores, obrigada! Beijooos do tamanho do mundo. ;*

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"Venha quando quiser, ligue, chame, escreva - tem espaço na casa e no coração, só não se perca de mim". CFA